Produção do Troller T4 no Ceará será
encerrada no fim de setembro e produção de peças de reposição vai até novembro.
A decisão da Ford de não mais vender a marca Troller e os direitos de
produção do seu único modelo, o utilitário T4, decretou o fim de uma das poucas
e mais cultuadas marcas automotivas genuinamente brasileiras.
A notícia, que veio a público nesta segunda-feira (9), surpreendeu os
cerca de 470 funcionários da fábrica da Troller em Horizonte (CE), bem como o
governo do Ceará, que acompanhava as negociações, e um empresário paraibano
cujas tratativas para assumir a produção do jipe 4x4 estavam avançadas.
Em conversa com UOL Carros, Maia Júnior, titular da Sedet (Secretaria do
Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Estado do Ceará), informa que as bases
do contrato de compra das instalações e da marca Troller por esse empresário já
estavam acertadas com uma empresa norte-americana de aquisições e fusões
contratada pela Ford.
"Falei com ele na segunda retrasada [2] e ouvi que só faltava
assinar. Contudo, recebi anteontem [9] um telefonema de Rogelio Golfarb
[vice-presidente da montadora] informando que as negociações tinham sido
suspensas por determinação da matriz nos Estados Unidos", diz o
secretário, que acrescentou que o empresário interessado ficou "altamente
indignado" com o recuo da oval azul.
Procurada pelo UOL Carros sobre o fim da marca brasileira, a Ford
afirmou que continuam à venda os ativos da Troller, incluindo terreno,
instalações, equipamentos e ferramentas - seguindo o mesmo modelo adotado para
as unidades de Camaçari (BA) e Taubaté (SP), que ainda esperam por comprador.
"De que adianta comprar terreno, que inclusive foi doado pelo
Estado, se não pode fabricar o produto? Além do investimento para a compra,
esse empresário da Paraíba gastou dinheiro com planejamento e capital de giro.
Ele pretendia não apenas manter a produção do T4 em Horizonte, mas também
fabricar outros veículos lá", pontua o secretário do governo cearense.
Considerando tudo isso, fica a pergunta: o que levou a Ford a decidir
pela extinção da Troller, fundada por brasileiros e que desde 2007 pertence à
empresa norte-americana? O UOL Carros cita alguns possíveis motivos para a
decisão da marca.
Peças da Ranger
Uma das razões seria de ordem prática, segundo Maia Júnior. "Uma
das solicitações desse empresário era de que a Ford se comprometesse a fornecer
6 mil motores turbodiesel da Ranger para composição de estoque, mas a empresa
em seguida suspendeu as conversas".
Hoje o T4 traz o mesmo motor Duratorq 3.2 turbodiesel de cinco cilindros
e 200 cv da picape média, além de compartilhar transmissão, chassi e outros
componentes com a Ranger, fabricada na Argentina.
Como a picape ganhará nova geração em 2023, possivelmente com novos
motores, conclui-se que a Ford não quer se comprometer a seguir fornecendo
propulsores e outras peças para a Troller.
Outra possível razão para a Ford querer "matar" sua
subsidiária é evitar concorrência futura. A oval azul acaba de lançar nos EUA o
SUV raiz Bronco (não confundir com o Bronco Sport), que traz a robustez da
carroceria sobre chassi e capacidades off-road semelhantes às observadas no T4.
Se o Bronco eventualmente for vendido no Brasil, brigará no mesmo nicho
hoje ocupado pela Troller, só que cobrando preço consideravelmente mais alto -
hoje, o T4 parte de R$ 198.400.
Há ainda a questão dos benefícios fiscais concedidos pelo governo do
Ceará, que dão carência e desconto para o pagamento de ICMS - enquanto o
Bronco, fabricado nos EUA, não teria essa vantagem, sem contar a incidência de
imposto de importação, frete e outros custos.
Por falar em benefícios fiscais, uma das principais razões para a Ford
adquirir a Troller há 13 anos foi justamente a inclusão da empresa no regime
especial de tributação para montadoras instaladas no Nordeste, que passou a ser
válido também para a fábrica de Camaçari - que já foi responsável pela produção
de EcoSport e Ka, os modelos de maior volume da oval azul.
Por: uol.com.br