E o número de toques diários no aparelho é ainda mais impressionante: são 2.600, em média.
O
smartphone já vicia mais gente, e de forma mais intensa, do que o cigarro.
Vivemos
grudados em nossos smartphones porque eles são úteis e divertidos. Mas o que
pouca gente sabe é o seguinte: por trás dos ícones coloridos e apps de nomes engraçadinhos,
as gigantes da tecnologia fazem um esforço consciente para nos manipular,
usando recursos da psicologia, da neurologia e até dos cassinos. “O smartphone
é tão viciante quanto uma máquina caça-níqueis,” diz o americano Tristan Harris.
E o caça-níqueis, destaca ele, é o jogo que mais causa dependência: vicia três
a quatro vezes mais rápido que outros tipos de aposta.
Harris
trabalhou quase cinco anos no Google, primeiro como programador e depois como “especialista
em ética de design”: a pessoa encarregada de garantir que os apps e serviços do
Google não fossem manipulativos ou viciantes. Em 2016, saiu da empresa para
criar uma ONG, que se chama Center for Humane Technology e reúne programadores
alarmados com o impacto da indústria da tecnologia. “Estamos colocando toda humanidade
no maior experimento psicológico já feito, sem nenhum controle”.
A
internet é a maior máquina de persuasão e vício já construída”, diz o
programador Aza Raskin, criador daquilo que o que viria a se tornar um dos
elementos mais viciantes dos smartphones: a “rolagem infinita”.
A
internet é a maior máquina de persuasão e vício já construída, diz Raskin. Você
provavelmente nunca ouviu falar dele, mas Raskin é famoso no Vale do Silício.
Isso porque, em 2006, ele inventou o que viria a se tornar um dos elementos
mais fundamentais e viciantes dos smartphones: a “rolagem infinita”. Sabe quando
você vai descendo pela tela e o conteúdo nunca termina, pois vai aparecendo
mais? Trata-se da rolagem infinita, que torna mais prático o uso do smartphones,
mas também mexe com a sua cabeça.
“Se
você não dá tempo para o seu cérebro acompanhar os seus impulsos, simplesmente continua
rolando para baixo”, diz Raskin. Ele não imaginava o poder viciantes de sua
criação, e hoje se arrepende dela – tanto que é um dos fundadores do Center for
Human Technology. “A pergunta que nós nos fazemos no Vale do Silício é: estamos
programando apps ou pessoas?”, diz. “Só Deus sabe o que estamos fazendo com o
cérebro das crianças”, afirmou Sean Parker, um dos fundadores e primeiros CEO
do Facebook, num debate em 2018. “Nós exploramos uma vulnerabilidade da
psicologia humana. Eu, Mark (Zuckerberg), Kevin Systrom (criador do Instagram),
todos nós entendemos isso, conscientemente, e fizemos mesmo assim”, afirmou.
Você
deve estar pensando: será que não tem um certo exagero nisso? Afinal, você não
controla o uso que faz do smartphone, e pode tranquilamente deixa-lo de lado,
certo? Mais ou menos. Primeiro, você provavelmente é bem mais dependente dele
do que imagina. Segundo, na prática é difícil conter o uso do celular. Foi o
que constatou uma pesquisa feita pela consultoria Deloitte com 2 mil
brasileiros. 30% das pessoas disseram que têm problemas com o uso excessivo do smartphone,
como dificuldade de concentração ou insônia, e 32% já tentaram maneirar – sem sucesso.
Uma pesquisa do Hospial Samaritano de São Paulo revelou que oito em cada 10
motoristas usam celular enquanto dirigem, ebora 93% deles reconheçam que isso é
perigoso.
Estudos
mostram que o uso excessivo do smartphone está ligado ao aumento das taxas de
ansiedades, depressão e déficit de atenção, inclusive com alterações na estrutura
do cérebro. Os sintomas começam a se manifestar quando a pessoa gasta mais de
três horas por dia no celular, e nós já passamos disso: o brasileiro gasta em
média 3h10 diárias nessa atividade.
Por: super.abril.com.br
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